Antonio Anastasia lançou a pedra fundamental do receptivo na Lapinha

Beto Novaes/EM

Gustavo Werneck

Minas Gerais vai ter de volta um dos seus tesouros mais valiosos e, até então, dado como irrecuperável. Mais de um século depois de levados para a Dinamarca pelo paleontólogo Peter Lund (1801-1880), fósseis da região de Lagoa Santa, na Grande BH, serão cedidos pelo governo do país escandinavo para exposição permanente no complexo da Gruta da Lapinha, no Parque do Sumidouro, a 50 quilômetros a capital. A informação foi divulgada, na manhã de ontem, pelo vice-governador Antonio Anastasia, durante o lançamento da pedra fundamental do receptivo turístico P. W. Lund, que será construído perto da gruta. A estimativa é de que 12 mil peças – enviadas, durante 45 anos, pelo naturalista dinamarquês – estejam no Museu Real de Copenhague.

“Vamos receber parte do acervo, em regime de comodato, embora não saibamos ainda a quantidade nem o tipo das peças. O certo é que são de grande representatividade”, disse Anastasia. A definição sobre esses aspectos está sendo decidida em Copenhague, onde se encontram, há dois dias, a assessora do vice-governador e coordenadora do programa estadual Linha Lund, Natasha Nunes, e o professor da área de paleontologia da PUC Minas Castor Cartelli, acompanhados do cônsul-geral da Noruega e presidente da Câmara de Comércio dos países escandinavos, o dinamarquês Jens Olesen. “Há uma série de exigências para exposição das peças, e uma delas é que seja em espaço climatizado ”, disse Anastasia, já prevendo um aumento do turismo ao local.
Com recursos de 1,7 milhão do governo estadual, o receptivo turístico será construído a 100 metros da entrada da Gruta da Lapinha, que recebe anualmente 25 mil pessoas, a maioria estudantes. As obras vão começar em setembro, com término em junho, quando deverão chegar os fósseis provenientes de Copenhague. Segundo o gerente de Gestão de Áreas Protegidas do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Roberto Coelho de Alvarenga, que administra o Parque do Sumidouro, a edificação, com de 1,2 mil metros quadrados de área construída e mais 400 metros quadrados no entorno, “será de Primeiro Mundo”, com museu para os fósseis, auditório, loja, café e outros atrativos.
O atual receptivo, ao lado da gruta, que apresenta estrutura comprometida, será demolido, deixando totalmente visível o paredão da Lapinha. Para dar mais charme ao lugar, foi projetada uma passarela entre as árvores. “Haverá ainda painéis com informações sobre o parque de 2 mil hectares, que fica entre Lagoa Santa e Pedro Leopoldo e será inaugurado até julho. Vamos triplicar o número de visitantes”, prevê Betão. Até agora, de acordo com o gerente, o governo estadual investiu cerca de R$ 40 milhões nessa unidade de conservação, sendo R$ 35 milhões apenas com a regularização fundiária.
LINHA LUND
Outra novidade para o Sumidouro é a construção do Centro dos Primeiros Americanos, um espaço, a quatro quilômetros do receptivo turístico, para exposições sobre os habitantes pioneiros do continente. A proposta é do professor da Universidade de São Paulo (USP) Walter Neves, que faz pesquisas no parque, a exemplo dos estudos, no século 19, de dr. Lund. O custo estimado é de R$ 2 milhões, também bancados pelo governo estadual. Segundo Anastasia, serão construídos receptivos também nas grutas de Maquiné (40 mil vistantes/ano), em Cordisburgo, na Região Central, a 114 quilômetros da capital, e Rei do Mato (20 mil visitantes/ano), em Sete Lagoas, a 70 quilômetros de BH.
Todas as construções fazem parte da Linha Lund, que integra os receptivos ao Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste de BH. “Serão investidos, só este ano, R$ 7 milhões nesse programa, que não é uma estrada, mas um conjunto de ações e projetos para fortalecer o turismo e o conhecimento arqueológico. No total, são 120 quilômetros de âncoras importantes. É uma herança para os estudantes”, disse o vice-governador.
O prefeito de Lagoa Santa, Rogério Avelar (PPS), destacou a repatriação dos fósseis como um fato internacional inédito. “Espero que esse entendimento entre os governos da Dinamarca e de Minas sirva de exemplo para outros países, como a Grécia, que reclamam seus direitos sobre acervo que foi levado ao longo dos séculos, sem qualquer retorno”, disse Avelar.


O novo centro de recepção deverá ficar pronto em junho do próximo ano
Jornal Estado de Minas de 14/05/2009

Um dos tesouros mais valiosos da pré-história de Minas, fósseis levados há um século para a Dinamarca pelo paleontólogo Peter Lund retornam ao Parque do Sumidouro, em Lagoa Santa.