Nota - Incêndio Museu Nacional do Rio de Janeiro
Nas vésperas de comemoração da sua independência, o Brasil dormiu mais triste. O incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro deixa o país em luto. Luto pela perda irreparável da memória nacional e de um dos maiores acervos museológicos do Brasil, das Américas e do mundo de antropologia e história natural do país com cerca de 20 milhões de itens.
A Prefeitura de Lagoa Santa se solidariza com o ocorrido e lamenta a perda material e imaterial de nosso patrimônio nacional e internacional. Com grande atenção, acompanhamos o trabalho da equipe técnica no sentido de mensurar o dano total ao acervo.
É com profundo pesar que comunicamos que o célebre crânio de “Luzia”, encontrado em nossa região arqueológica, na Lapa Vermelha IV, estava sob a guarda do Museu Nacional do Rio de Janeiro que foi destruído pelas chamas.
Lagoa Santa foi a primeira cidade a criar um núcleo de arqueologia municipal no Brasil, o CAALE, em 1983. Este espaço encontra-se em pleno funcionamento, tendo sob sua guarda mais de 100 mil itens, entre material histórico e pré-histórico, devidamente registrados e catalogados. Para mantê-los em segurança, seguimos todas as normas em vigor estabelecidas pela CNA/IPHAN, inclusive no que tange à segurança, na sua mais completa acepção.
Cuidar da história é imaginar a cidade possível.
Saiba mais sobre Luzia:
O crânio de “Luzia”, um dos restos esqueletais humanos mais antigos já encontrado no continente americano veio a luz em 1975, fruto de escavações realizadas pela Missão Franco-Brasileira no sítio arqueológico Lapa Vermelha IV, localizado no atual município de Pedro Leopoldo, na região arqueológica de Lagoa Santa, sob coordenação da arqueóloga francesa Mme. Annette Laming Emperaire, pesquisadora do Museu do Homem, de Paris. O crânio, desde então, se encontrava sob guarda do Museu Nacional do Rio de Janeiro. O prematuro falecimento de Annette Laming Emperaire, em 1977 e de outros pesquisadores da Missão acabaram por fazer com que esse sítio e esse achado não fosse devidamente estudado na época, o que só veio ocorrer de fato na década de 1990.
Datado em aproximadamente 11,5 mil anos a partir de estudos realizados em meados dos anos 90 pelo Laboratório de Estudos Evolutivos da Universidade de São Paulo, sob coordenação do bioantropólogo Prof. Dr. Walter Neves, o crânio apresentava uma morfologia mais semelhante aos africanos e aborígenes atuais e distinta dos atuais asiáticos. A constatação da presença de grupos humanos na região com essa datação e essas caraterísticas morfológicas contribuiu efetivamente para a crítica do tradicional modelo explicativo de povoação do continente americano, baseada nos achados no sítio de Clóvis, New México/USA, contribuindo de sobremaneira para a emergência de novas hipóteses acerca dessa ocupação, entre elas a defendida pelo Prof. Dr. Walter Neves, dos “Dois Componentes Biológicos”, que apontam para duas migrações distintas, no que tange à ocupação humana do continente.
O crânio de Luzia foi encontrado na Lapa Vermelha IV, Monumento Natural criado pelo Decreto Estadual n° 45.400, de 14 de junho de 2010, encontrando-se localizado na APA-Carste de Lagoa Santa e situado no município de Pedro Leopoldo, na porção centro-sul do estado de Minas Gerais, aproximadamente a 40 quilômetros da região metropolitana de Belo Horizonte, próximo ao Aeroporto Internacional Tancredo de Almeida Neves. O acesso ao Monumento é restrito, não estando o mesmo aberto a visitações e não sendo desenvolvidas atividades turísticas no mesmo. A administração do mesmo é levada a termo pelo Instituto Estadual de Florestas, IEF.